sábado, 17 de abril de 2010

Uma semana depois

Após uma semana de OWU, os dias passaram em um ritmo muito mais acelerado do que o costumeiro African Time, Deus é pai. Por sinal, todo dia foi basicamente a mesma coisa. Acordar por volta das 7:30, trocar de roupa e começar a dar a aula às 8 da matina. A Elea resolveu fazer um pouco diferente, acordava um pouco mais cedo pra comer a papinha (uma espécie de mingau transgênico moçambicano) que é servida entre 7:20 e 7:40 e depois voltava para me acordar. Quem me conhece sabe que eu nunca ia trocar mais 15 minutos de sono pela manhã, ainda mais sabendo que o mata bicho, popular café da manhã brasileiro, é servido às 9:30.

Sigo vagarosamente para minha primeira aula do dia. Ela vai das 8 até o mata bicho e é dada à turma nível 2 de inglês. A sala é composta pelos alunos do curso de Formadores que iniciaram os estudos em 2009. Formador é professor em moçambicanês e este curso prepara os formadores que prepararão os formadores da EPF. Lembra da EPF ( Escola dos Professores do Futuro)? Nosso antigo projeto que preparava professores para o ensino primário nas zonas rurais do país. Então, aqui eles preparam os professores que darão aulas nesse projeto. Subimos um degrau na cadeia alimentar da nossa organização.

Enfim, esses alunos são em média mais velhos, os mais novos têm nossa faixa de idade, enquanto os mais velhos já carregam mais de meio século nas costas. Meu primeiro pensamento foi: "F****!". O problema era que todos (pessoas aleatórias que passaram pela minha vida e pelo mesmo programa que eu) tinham me dito que as pessoas mais velhas, especialmente formadores, não aceitavam DIs, especialmente mais jovens, como professores. Agora imagine eu como professor deles, piada.

Porém, como eu já disse anteriormente: "Deus é pai". Não é que baixou o professor em mim e mesmo sem tempo para dar aula eu consegui enfiar a matéria na cabeça deles? E com a Elea aconteceu a mesma coisa. Nossa atuação superou e muito nossa expectativa. Eles não só nos respeitam como professores, mas aparentemente gostam da gente. Tá sendo bem legal pra gente isso tudo.

Chega de digressões! Continuando. Essa turma é nível intermediário mas na verdade são nível básico ainda, mas sabem falar alguma coisa e já entendem alguma coisa também. Comecei do zero com eles e creio ter conseguido uma melhora interessante para uma semana.

A aula sempre acabava com o sinal para o mata bicho. Meia hora depois lá estava eu de volta para dar aula. Em nosso esquema de rotação de salas, a Elea dava todas as aulas na parte da manhã ao nível 1, eu dava ao nível 2 e 3. À tarde ela dava pro dois e pro um e eu só pro três. Entendeu?

A sala do nível 3 era muito boa. Eram nove alunos com um nível de inglês bastante elevado. Durante a aula falávamos apenas em inglês e cobrimos uma parte muito maior do que a prevista. Tivemos tempo ainda para discutir questões aletórias, desde o presidente Lula até os campeonatos de futebol no Brasil e na Europa.

Minha segunda aula do dia acabava às 11:30 da manhã e eu voltava a dar aula para o nível 2, dessa vez só por uma hora. O almoço aqui é às 12:30. A Elea então começava a aula dela com nível 2 às 13:30 e eu voltava ao nível 3 e ficava até às 16:00. Das 16:00 até às 18:00 é o horário em que os alunos trabalham na fazenda ou jogam futebol. Nós preparávamos as aulas seguintes e tomávamos banho. Aqui só tem água muito gelada no chuveiro, logo se a gente demora até a noite pra toma banho lascou.

A janta é servida às 18:oo e é minha refeição preferida. Enquanto no almoço é servido shima/arroz com matapa ou feijão. À noite é shima/arroz/macarrão com carne de vaca ou peixe e uma vez por semana um frango prá lá de bom.

Depois da janta a gente sempre tinha uma atividade mais “de buena” pro povo só que sempre surgia um imprevisto que nos impedia de realizar a tarefa e a gente voltava a se concentrar nas aulas do dia seguinte até mais ou menos umas 10 da noite. Depois íamos dormir em nossa barraca no meio da savana. Ahhhh, África...

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