segunda-feira, 24 de maio de 2010

Conversa com deputada e a mulher moçambicana

Quando Nyelete me ligou cancelando nossa visita à Assembleia da República, uma ponta de frustração bateu em mim. Deveríamos passar a tarde no órgão, conversando com quatro deputadas sobre a condição da mulher em Moçambique. Contudo, o dia ainda não estava perdido e fomos nos encontrar com Ana Rita Sithole, parlamentar em seu quarto mandato já.

Alta, magra e de pele relativamente clara para os padrões moçambicanos, Ana Rita chegou e logo me senti aliviada por ter optado por minha roupa ocidental ao invés da capulana na cintura e na cabeça. Afinal, ela disse que se sente obrigada a vestir a roupa tradicional por alguns ainda verem com maus olhos mulheres usando calças.


Os costumes e as tradições se chocam diariamente contra a grande participação política feminina em Moçambique. Enquanto aproximadamente 40% das cadeiras do parlamento do país são ocupadas por mulheres, as diferenças de acesso à educação entre os gêneros ainda são gritantes: a taxa de analfabetismo, por exemplo, é de pouco menos de 50% entre os homens, mas entre as mulheres é de 66%.

Por isso, Ana Rita defendeu veementemente que dar uma base educacional às mulheres é o ponto chave que está faltando para que haja a total emancipação feminina no país. A participação política já está garantida desde a luta pela independência de Portugal, quando a OMM (Organização da Mulher Moçambicana) surgiu para dar mais voz às mulheres, que participaram, inclusive, da luta armada.

Desde essa época, Ana Rita está na política. Passou pelo colonialismo, pela independência, pela guerra civil, pelas primeiras eleições presidenciais e pela aprovação da Lei Família, que mudou algumas injustiças machistas ainda legais até 2004. Na lei anterior, as esposas não tinham direito à herança dos maridos, não podiam decidir pelo direito dos filhos sem pedir autorização do homem e perdiam a nacionalidade moçambicana caso se casassem com estrangeiros.

Um longo caminho ainda precisa ser traçado. A mulher ainda sofre discriminação, não tem acesso ao crédito para melhorar de vida e é excluída de certos cargos de liderança. A própria Ana Rita passou por isso. Em um de seus mandatos, foi indicada para presidir uma comissão parlamentar. Um dia depois, lhe informaram que o presidente seria outra pessoa, um homem, para atenuar o desconforto de ter tantas mulheres presidindo comissões.

As raízes culturais são fortes e difíceis de se quebrar, mas quando se fala em participação política e liderança feminina, Moçambique está alguns anos na frente do Brasil. E realmente acredito que isso vai melhorar muito mais cedo que qualquer outro problema por aqui.

Ps: A imagem está distorcida. Ainda não descobri o que faz isso acontecer às vezes, mas é só clicar nela que abre direitinho.

Um comentário:

  1. Rapaz,

    Não pense que eu esqueci de vocês!!!

    Enviei uns emails na sua conta do hotmail!

    vc chegou a receber? Qualquer coisa o rafa tem meu email do trampo!

    abz

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