terça-feira, 25 de maio de 2010

Post Importante: Projeto com a Comunidade

Em nossa rápida passagem pelo Brasil, antes de chegarmos a Moçambique, organizamos uma pizzada beneficiente para desenvolver projetos em Bilibiza, antecipando os problemas na obtenção de fundos aqui na África. Muitos amigos compareceram e conseguimos arrecadar cerca de 1250 dólares - 500 doláres foram utilizados para o pagamento da pizzada como previsto e o restante veio conosco.

Para os que não foram à pizzada, nós pedimos doações para a criação de projetos sustentáveis na vila de Bilibiza, implementação de atividades de geração de renda, e para a reforma da Escolinha, pré-escola da cidade. Estávamos confiantes de que o dinheiro seria empregado de boa maneira e sem maiores obstáculos.

Contudo, fiquei doente e tivemos que mudar de projeto. Perdemos um tempo considerável de trabalho, mas o pior foi ter que nos instalarmos em outro projeto e buscar utilizar o dinheiro arrecado de maneira eficiente em uma comunidade com necessidades totalmente diferentes.

Nas primeiras semanas, estávamos aflitos com a possibilidade de não utilizarmos o dinheiro apropriadamente ou não utilizarmos de maneira alguma. Paramos, respiramos e lembramos o que nós prometemos durante a pizzada.

"Nós iremos primeiro nos adaptar à vida na vila, depois iremos aos poucos identificar os problemas e as melhores soluções para depois implementar alguns projetos. Isso levará no mínimo dois meses."

Como ainda tínhamos 4 meses pela frente, resolvemos seguir nossas próprias recomendações. Nos habituamos à vida e ao convívio com nossos novos alunos. Em seguida, conhecemos a comunidade de Changalane e colocamos a nossa "obrigação" para com o dinheiro um pouco de lado.

Oficina Pedagógica e a ONG como obstáculo

Eis que na última segunda-feira visitamos a Oficina Pedagógica em Changalane. A Oficina é uma espécie de centro comunitário de nossa organização na vila. Infelizmente, está completamente abandonada pela organização e sobrevive da força de apenas alguns alunos.

Pensamos em várias maneiras de aproveitar o espaço, a possibilidade de enfim desenvolver o nosso trabalho com a comunidade parecia estar cada vez concreta. Contudo, o espaço era da organização, portanto qualquer dinheiro aplicado ao centro iria beneficiar a organização, e qualquer dinheiro necessário para manter os projetos que nós criaríamos teria que passar também pela organização. Em outras palavras, era um beco sem saída. Sabíamos da falta de comprometimento da organização com a Oficina e com seu comprometimento em "redistribuir" o dinheiro de projetos como este.

Seria mentira dizer que não fiquei um pouco triste ou frustrado com tudo isso. Novamente tive que lembrar de minhas palavras. Lembrei daquelas que tratavam de perseverança, determinação, força de vontade e ajuda divina. Recomeçamos.

No primeiro dia de nosso recomeço, compramos uma bola de futebol decente para nossos amigos e estudantes poderem ter um pouco mais de prazer em seus cotidianos tão controlados por uma diretoria ditatorial.

Pensei que era uma maneira de tirar a pressão de usar o dinheiro. Mais ou menos como o atacante sem moral que o time deixa bater o pênalti para ve se os gols começam a sair.

E não é que funcionou? Logo no segundo dia de nosso recomeço tivemos uma idéia. Melhor do que isso, tivemos "A Idéia".

A Idéia

Ela é bastante simples e eficaz. Respeita nossos ideias de criar um projeto gerido por moçambicanos, em que o conhecimento seja transferido para eles, além de tratar de problemas vigentes na comunidade de maneira prática e criativa.

Em linhas gerais este seria o projeto:
  • Temos 40 alunos, eles seriam divididos em dez grupos de 4 pessoas.
  • Cada grupo funcionaria como uma pequena organização e teria que desenvolver um projeto para a comunidade.
  • O projeto seria apresentado a nós. Caso seja necessário sofrerá modificações.
  • Eles então apresentariam o projeto como se estivessem buscando patrocínio em uma empresa.
  • Em seguida aprovaríamos o crédito de 1500 meticais ou 50 dólares para cada grupo.
  • O grupo seria responsável pelo dinheiro e todo os gastos seriam propriamente registrados e dispostos de maneira transparente para nós.
  • Durante a implementação do projeto eles receberiam checkpoints. O checkpoint consiste em um deadline para determinada fase do projeto. Por exemplo: primeiro checkpoint vai ocorrer uma semana após o recebimento do dinheiro e o grupo terá que contar com todo o material necessário para o começo das obras.
  • Após a conclusão de todos os projetos, nós avaliariamos o desempenho das equipes com base nos seguintes critérios:
1. Melhor aproveitamento dos recursos disponibilizados
2. Mobilização da comunidade na implementação do projeto
3. Quantidade de pessoas beneficiadas pelo projeto
4. Efemeridade do projeto
5. Atrasos em relação aos Checkpoints.
  • Por fim, os membros do grupo vencedor receberia 500 meticais cada, além de ter seu projeto estendido para outras comunidades ou famílias.
Essas linhas gerais já foram elaborados e um projeto contendo todas as datas, etapas e o modus operandi já foi elaborado. A idéia é que os estudantes aprendam a criar e desenvolver projetos com recursos escassos. Assim são praticamente forçados a contar com o apoio da comunidade e dessa maneira alguns membros da comunidade também aprenderão no processo.
O projeto é flexível e deve ser melhorado. Se você, leitor, tiver alguma sugestão seria muito bem-vinda. Pode deixá-la em nossos comentários, favorecendo o debate.

Agora vamos aos nossos obstáculos, só para variar um pouco.

O absurdo

Nós possuimos apenas um obstáculo: fazer com que a "Universidade"em que trabalhamos libere seus alunos para se focarem neste projeto algumas noites na semana. Detalhe: as noites já são praticamente livres quando não deveriam ser.

Para passar por esse problema, nos reunimos ontem à noite com uma peruana que responde diretamente à diretora, uma louca dinamarquesa. A peruana se chama Marisela e gosta muito desse tipo de iniciativa. Ela foi super favorável e ficou super agradecida pelo apoio. Prometeu falar esta manhã com a diretora antes que ela viaje para o México, onde ficará por uma semana.

Hoje de manhã Marisela veio nos relatar o que aconteceu. O plano era que ela abrisse o caminho para nós apresentarmos tudo em detalhes. Porém, a doida achou um absurdo e disse que nós estávamos tentando destruir o projeto dela. Marisela falou que ficou chocada e tentou mostrar que não tinha nada a ver com isso, mas a velha teimosa disse que este projeto ia contra o currículo da faculdade no presente momento e só aceitaria com as seguintes condições:

Apenas 7 alunos desenvolveriam o projeto. Cada aluno teria que trabalhar com uma família e eles teriam que dividir todo o dinheiro entre eles.

Nós já nos mostramos totalmente contra essa idéia. A Elea imediatamente escreveu um texto de duas páginas mostrando como o projeto vai de encontro ao que eles estão estudando agora: Parcerias e pesquisa para implementação de projetos.

Vamos apresentar a ela novamente. Agora é esperar e ver.

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