quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Finalmente África (Parte I)

O próximo passo da viagem foi o vôo até Joanesburgo, que durou cerca de nove horas bem desconfortáveis. A poltrona era dura, o avião era barulhento e era difícil de enxergar a televisão. Quando conseguíamos enxergar, passava um filme bem ruim (Post Grad) ou algum documentário que parecia estar na tela só para fazer todo mundo cair no sono. Isso não seria tão ruim se o sono em si não fosse interrompido pelas inúmeras turbulências durante a madrugada.

A maioria dos outros passageiros parecia bem mais familiar com essas coisas. Pelo menos foi isso que deduzi depois de ver duas em cada três pessoas pedir bebida alcoólica logo no começo do trajeto.

Tanto era o cansaço de passar a noite acordada de terça para quarta, aumentado pelo vôo até Buenos Aires e potencializado por toda espera no aeroporto, que acabei dormindo. Foi difícil abrir os olhos quando acordaram a gente de novo para o café às duas da manhã no horário brasileiro. Olhos pesados, ovo mexido aguado, lingüiça e champignon. Mistura ruim.

Olhei pela janela e, ao invés de ver o oceano irritante que me acompanhava durante o resto da viagem, encontrei terra. Uma terra que mesmo a mais de dez mil metros de altura já parecia estranha, diferente, misteriosa. Impossível descrever os desenhos que o relevo acidentado fazia, as cores quentes e alaranjadas do chão. Depois veio um mar de nuvem, como se tivesse nevado no céu ou se estivéssemos voando sobre uma banheira de espuma gigante.

Em terra firme, o aeroporto de Joanesburgo já está pronto para a Copa do Mundo, com muitos cartazes e muita decoração. Aliás, a cidade toda está assim, de braços abertos para os turistas chegando em junho. E quem vier deve encontrar um povo que até supera o brasileiro no quesito hospitalidade.

Ganhei um visto para três meses da imigração do aeroporto, pegamos nossa bagagem e fomos atrás do motorista do hotel que deveria estar com uma placa escrito “Mr. Fernandes” nos esperando. Nada. Rodamos três vezes o saguão de saída dos passageiros, lemos cada uma das vinte placas presentes. Nada.

Até que uma senhora, escutando a gente em português, nos ofereceu ajuda. Seu nome era Laura, portuguesa, vivia em Moçambique até mudar para África do Sul em 1976, coincidentemente o ano em que o país se libertou das redes da colonização de Portugal e se deu início a guerra civil. Ela ofereceu seu celular, ligou para o hotel por nós e comprou nosso dólar. Pois é, nos rendemos ao mercado negro logo na nossa primeira hora no continente.

Um dólar comprou 7,65 rands, a moeda nacional. E agora entendo como é o bom estar com dólar em um país de moeda enfraquecida: tudo fica absurdamente barato. A McOferta do Big Mac, por exemplo, custa menos de quatro dólares aqui. E indo ao mercado local, tivemos impulsos consumistas quase incontroláveis quando vimos máscaras entalhadas em madeira, colheres de pau trabalhadas super baratas e sendo vendidas por pessoas que não tinham muita noção de como o trabalho delas é bom. Ou seja, voltaremos com uma mala a mais só de tralhas. Acho que aqueles que esperavam lembrancinhas dos EUA e se decepcionaram vão ser compensados em agosto.

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