quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Finalmente África (Parte II)

Emmanuel era um loiro alto de olhos azuis e cabelos espetados, totalmente diferente de todos os outros motoristas (negros) esperando seus passageiros no saguão. O African Centre Lodge, nosso hotel, o contratou para ficar no aeroporto, em busca de turistas perdidos que estão normalmente esperando um dia ou dois para pegar seu próximo vôo – ou ônibus, no nosso caso. Pra mim, a escolha de manter uma pessoa com estereótipo tão europeu só pode ser explicada pelo possível racismo de um estrangeiro.

Até agora fico impressionada como não há mistura de raças por aqui. No Brasil estamos acostumados com toda a miscigenação, com os inúmeros tons de pele, formatos de olhos e de nariz. Passeando pelo shopping hoje à tarde, pude perceber como é difícil ver brancos trabalhando como vendedores, garçons, seguranças. E como brancos e negros dificilmente andam juntos. Resquícios e conseqüências, na minha humilde e amadora opinião, da política do Apartheid.

Dá até pra se sentir mal por ser branco aqui – e isso mostra como o nível do racismo no Brasil é quase imperceptível, mas isso são outros quinhentos. Cheguei a questionar se não tratavam a gente tão bem o tempo todo por causa da nossa cor.

Entre os negros e os brancos, tem bastante indiano, o que influencia bastante na comida pelo menos dessa região. Dois recepcionistas do hotel, por exemplo, são de lá. E por sugestão de um deles, nossa janta foi à base de um curry que me lembrou dos melhores restaurantes de comida indiana em São Paulo, incluindo o preço elevado.

Se o hotel tem a facilidade de estar a dez minutos do aeroporto, ele tira proveito disso nos preços e cobrando pelas coisas mais absurdas de se cobrar. A jacuzzi custa 80 rands (cerca de dez dólares) por meia hora e o acesso à rede de internet fica a um rand por minuto. Apesar disso, passar o dia aqui descansando foi uma boa escolha. O lugar é cheio de decoração africana. As portas de madeira são entalhadas com figuras dos cinco maiores mamíferos – a do nosso quarto tem um elefante. Cabeças de antílopes entalhadas estão espalhadas por todas as áreas comuns. E é sempre bom ter alguma comodidade antes de alguém se fechar no meio do mato por seis meses.

Conhecemos o lugar por causa do Zé, um DI (Development Instructor, como se chamam os voluntários na África) que veio pra Moçambique em Novembro. Aparentemente esse é um destino comum entre os voluntários do IICD. Pouco tempo depois de fazermos nosso check-in, outro DI brasileiro chegou. Ele esteve na Namíbia por seis meses, trabalhando com o TCE para levar informação sobre Aids para a população. Agora está indo para casa, fazendo escala na Argentina, no caminho oposto ao nosso. Talvez daqui seis meses aproximadamente será nossa vez de encontrar DIs rumo aos projetos, enquanto voltamos para casa.

Por ora, estamos prontos para a próxima etapa da jornada até Bilibiza. Amanhã às seis da manhã saímos do hotel e vamos à estação pegar um ônibus até Maputo. Serão cerca de oito longas horas de viagem, mas para quem já foi para Ohio de ônibus, não vai ser tão complicado assim. E lá vamos nós a Moçambique!

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