sábado, 27 de março de 2010

Saldo do Primeiro Mês

No último dia 19, completamos um mês em Moçambique. É incrível como passou rápido. Infelizmente, perdemos nossas duas primeiras semanas presos em Maputo, tentando resolver a questão do roubo do passaporte do Gabriel.

O lado bom foi que pudemos conhecer a capital do país e entender melhor como funciona Moçambique e o povo daqui, fizemos amigos pela comunidade, descobrimos projetos interessantes na região e saímos daqui entendendo melhor qual a postura que se deve ter ao lidar com os moçambicanos e com as questões de desenvolvimento. Fora que tivemos tempo suficiente para convencer a ADPP (Ajuda do Desenvolvimento de Povo para Povo, a organização para a qual trabalhamos aqui) a nos mandar ao nosso projeto de avião, e não de ônibus, que demoraria duas semanas para chegar a Bilibiza.

Para quem não acompanha o blog, Bilibiza era a África que todo mundo tem no imaginário: uma pequena aldeia, sem eletricidade ou água encanada, as casas todas feitas de barro eram destruídas quando havia chuva forte e quase ninguém sabia falar português – só se ouvia Emakhua, a língua predominante na região norte do país. Encontrar vegetais, legumes, frutas era muito difícil e nossa alimentação ficava restrita a, principalmente, arroz, feijão, matapa (folha do feijão cozida) e chima (farinha de milho + água).

Como somos meio loucos, consideramos Bilibiza o lugar perfeito, até porque havia um grupo de Combatentes da Pobreza, pessoas que implementam diversas atividades junto à comunidade, como as que queremos fazer. Estávamos trabalhando com eles nas duas semanas que ficamos por lá: arrumamos o orçamento para conseguir o dinheiro dos patrocinadores e começar os projetos e fomos às escolas na aldeia para chamar a população para participar das atividades.

A escolinha de Bilibiza estava parada porque o líder da comunidade local queria cobrar dinheiro para conversar com as crianças e chamá-las para as aulas. Era cerca de um real por criança com que ele falasse, então nós e os outros voluntários ficamos em um impasse: se aceitamos as condições e damos o dinheiro, toda vez que quiséssemos implementar uma atividade nova e falássemos com ele, ele pediria mais dinheiro, mesmo que a atividade fosse para o bem das pessoas da aldeia. Conseguimos um intermediário e semana passada as aulas voltaram na escolinha, mas já não estávamos lá para ajudar.

Como já expliquei, tivemos que sair do projeto em Bilibiza porque o Gabriel ficou com uma reação alérgica e crise de asma forte lá. Desde a primeira noite, ele não conseguia dormir, respirava mal, não podia falar direito e não podia ir a nenhum cômodo da casa que não fosse a sala de estar, o único com janelas e por isso mais arejado, menos úmido e sem mofo. Trabalhar em Bilibiza era impossível para ele e até mesmo perigoso, porque o hospital mais próximo ficava a cerca de quatro horas dali, então decidimos trocar de projeto após duas semanas.

Voltamos a Maputo há alguns dias e estamos resolvendo para qual projeto vamos agora. Changalane, a 80 km da capital nacional, parece que vai ser a eleita. Lá há uma universidade para formar professores e Combatentes da Pobreza, os mesmos com que trabalhamos em Bilibiza. Os voluntários que ficaram lá sempre falam muito bem porque você ajuda na formação dos Combatentes e trabalha com eles direto com as comunidades. Quarta que vem vamos visitar a universidade e conversar com a diretora já sobre nossas atividades lá.

Com todos os imprevistos e mudanças, ainda não tivemos tempo de implemetar o dinheiro doado por amigos e familiares em fevereiro, quando passamos no Brasil. Queremos ter um tempo para conhecer a região onde vamos trabalhar primeiro para ter certeza sobre as necessidades do local e garantir que ninguém use um projeto nosso em benefício próprio. Em Bilibiza, por exemplo, dois voluntários construíram um poço e o líder local começou a cobrar para as pessoas tirarem água.

Assim que chegarmos a Changalane, vamos à comunidade para investigar as condições de vida lá e a partir daí montaremos os projetos para começar a implementar os 750 dólares arrecadados na pizzada. Já aviso que isso deve demorar algum tempo, mas vamos informando a todos por aqui.

E para aqueles que tem preguiça de ler e gostariam de ver mais imagens, aviso que Moçambique é obviamente um país sem muita tecnologia e a internet daqui é lenta demais para postarmos muitas fotos sempre. Por isso, duas ou três fotos por texto é o máximo que conseguimos e ainda demoramos uma hora e meia para fazer isso. Hoje não vai dar porque está em um dia ruim

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